Título: Filho de peixe
Autor: Marcelo Carneiro da Cunha
Capa e ilustrações: Guazzelli
Quando terminei a leitura do livro de Marcelo Carneiro da Cunha, “Filho de Peixe”, minha primeira constatação foi que eu estava diante de um verdadeiro marco da literatura juvenil brasileira. A história de Nino – um jovem que vive com sua família em uma pequena comunidade de pescadores em Pernambuco – nos é apresentada através de narrativa em primeira pessoal envolvente, tanto pela linguagem como pela trama.
Em um primeiro momento, conhecemos o personagem e sua comunidade; seus infortúnios e sonhos de juventude. Mas esse universo juvenil fica pequeno diante do surgimento de um grande problema: a única fonte de renda da família de Nino está ameaçada. Não apenas a renda como, também, o trabalho, o estilo de vida e a própria vida de todos da comunidade estão ameaçados por um problema que vai além da ficção: a degradação irreversível do coral.
É em meio a essa situação complexa e delicada que acompanhamos Nino em uma luta pessoal, social e humana. O protagonista é um dos principais motivos que faz com que nos encantemos por “Filho de Peixe”. Nino é jovem como o leitor ao qual o livro se dirige e, ao mesmo tempo, é um personagem em meio a desafios tão profundos como o mar, retomando algumas das características do herói da epopéia ao se lançar em uma aventura sem precedentes, contrariando seus iguais e seus próprios desejos em prol de um bem maior. Este tipo de aventura heróica com qualidade ficcional há muito vem perdendo espaço na literatura juvenil. Porém, Marcelo Carneiro da Cunha retoma esse tipo de ficção e, ao transpor uma situação universal para a realidade brasileira, sobretudo contextualizando problemas tão reais e urgentes, torna seu livro uma verdadeira obra de arte literária.
A capa de Guazzelli é a melhor resenha do livro, só que em imagem. O artista aproveita o trecho inicial do popular ditado que dá nome ao livro e desenha vários peixes, que representam os pescadores da comunidade de Nino e seus barcos, que sempre possuem velas em formatos geométricos e com cores peculiares únicos e personalizados que permitem que o pescador e barco em questão sejam reconhecidos por suas famílias na volta ao litoral após um dia de trabalho no mar. No meio de todos os peixes, que estão interligados assim como todos na comunidade, vemos um peixe pequeno; o filho do peixe, que vai “contra a maré” – assim como os dos bons livros de literatura.
Camila de Castro Castilho
Resenhista da Casa de Livros
Designer educacional – especialista em literatura infantil e juvenil